ATHENA XXI
Os
séculos XV e XVI foram, na Europa, um período de grandes acontecimentos e
mudanças, fruto de uma conjuntura histórica favorável, a qual produziu uma
extraordinária evolução no modo de vida, nas mentalidades e na cultura
europeias, facto notado até pelos próprios contemporâneos que falam da sua
época como "um tempo novo“ que os historiadores do século XIX chamaram
"renascimento", período de transição entre a Idade Média (476-1453) e
a Idade Moderna (1453-1789).
Muitos
são os fatores das grandes transformações desta época. Alguns remontam ao
século XII e às primeiras alterações estruturais que abalaram o mundo feudal e
provocaram o renascer do mundo urbano, gerando um maior dinamismo
socioeconómico; a abertura comercial da Europa aos mercados de outros
continentes, iniciada no Mediterrâneo pela burguesia das cidades italianas e
continuada pelas grandes descobertas geográficas, transcontinentais e
transoceânicas, nas quais Portugueses e Espanhóis foram pioneiros.
Este
facto quebrou o isolamento europeu, abrindo as portas a intercâmbios culturais.
Permitiu a construção de um comércio à escala mundial que foi motor de
desenvolvimento, revelou a verdadeira dimensão e forma do Globo terrestre e a
variedade de climas, faunas, floras, povos, raças, culturas e religiões.
Proporcionou a elaboração de novos saberes construídos com base na observação e
na experiência vivida, que obrigaram a rever os conhecimentos da Idade Média.
O
pensamento teocêntrico e simbólico dominante na Idade Média diminuiu face ao
crescimento de uma nova mentalidade que, acreditando nas capacidades humanas,
colocava o Homem no centro dos interesses e motivações (humanismo) e usava-o
como modelo e referência para todas as coisas (antropocentrismo). A crença no
Homem e nas suas capacidades levou a um maior racionalismo, através do qual se
desenvolveu o espírito crítico e se assumiram atitudes mais positivas e
realistas em relação à vida.
Assim,
desenvolveu-se nesta época uma maior curiosidade e vontade de saber um
crescente interesse pela História proporcionando a redescoberta da Antiguidade
greco-romana que se tornou um ideal e exemplo a seguir (classicismo). Gerou
também um olhar mais objetivo sobre a Natureza, criando as bases do
conhecimento científico moderno e, na arte, o gosto pela representação dos
homens, do quotidiano e da paisagem, através do realismo técnico e da
pormenorização.
Surgiu assim uma conceção mais pragmática e
profana da vida, que valorizou o conceito de individualismo - corrente
doutrinal e prática que defende, para cada homem, a concretização das
potencialidades e características próprias e sobrevaloriza o papel do indivíduo
na evolução das sociedades e da História.
Ana Lídia Pinto e outros - A arte
no Ocidente. Porto: Porto Editora, 2014, pp. 172-174.
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adaptado.
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